Wednesday, June 2, 2010

A copa, a cozinha, a sala e outros aposentos...

E o juiz apita: começa o jogo na África do Sul!

Sim, a Copa do Mundo! Depois de quatro anos ela estava de volta. O momento máximo do esporte tido como paixão nacional. No entanto, sentia que as coisas já não eram como antes. A seleção já não tinha aquela identidade com a torcida, aquele brilho, aquele encanto que hipnotizava não só os brasileiros, mas o mundo! Achava estranho que, diferentemente do que aconteceu em outras copas, o país só ficou enfeitado mesmo na véspera do jogo. Em outros tempos, não muito, talvez uma ou duas copas atrás, as ruas já estavam pintadas de verde e amarelo uns dois meses antes do jogo de estreia. Mas, dessa vez, era totalmente compreensível. O que o técnico Anão estava pensando? Não levou aquilo que tínhamos de melhor. Todos os dias os jornalistas esportivos davam os seus pitacos: "Por que ele não dá uma chance para o Neyrio?"; "Como pode deixar um craque como o Cisne de fora?"; "E o Boladinho? Ele está jogando muito! Por que não convocá-lo?"...

O fato é que ele levou quem ele confiava. E é para eles que devemos torcer, afinal de contas somos patriotas, certo? Patriotismo... isso era outra coisa que não aguentava mais ouvir sem se irritar. Hipócritas! Achava o cúmulo as pessoas serem patriotas apenas na copa do mundo. De quatro em quatro anos todos enchem o peito e gritam "Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor!" Hipócritas! Por que não agem assim o ano inteiro todos os anos? Hipócritas! Hipócritas! Hipócritas!...

Piiiiiii... e é fim do primeiro tempo!

Com muita irritação, não apenas por conta do jogo que estava empatado em zero a zero, mas também por conta de seus pensamentos, levantou-se e foi até a cozinha. Pipoca! Isso era sagrado em jogos. Depois de muitos Ploc, ploc, ploplocs, pegou a vasilha de pipoca e voltou para a sala.

Comeeeeeeeeça o segundo tempo!

Com os olhos vidrados na telinha e a boca cheia, de repente passou-lhe pela cabeça que sofrer por algo que não mudaria a sua vida não levaria a nada. Mas não podia evitar. Adorava esse esporte. Adorava dar palpites quanto à escalação, à tática, às substituições... enfim, quem precisa de técnico se existem os torcedores, não é mesmo? Sabia que o atual técnico da seleção não permaneceria no cargo após a copa. Vida de treinador pode ser curta às vezes. Imaginava quem mais sairia, quem se aposentaria... quantos "Eu me aposento"(s) ouviria além, é claro, da notícia de mudança de clube de muitos outros...

Gooooooooooooooool... é do Brasiiiiiiiiiiil!!!

Para esse jogador que acabara de fazer o gol, com certeza a vida valeria a pena. Ganharia notoriedade por ter marcado um tento em um campeonato que o mundo inteiro para para assistir. Ganharia (ou continuaria ganhando) milhões. Não teria com o que se preocupar por muito e muito tempo. Só, talvez, teria que lidar com uma possível inflação de ego. Quanto aos torcedores, esses sim teriam com o que se preocupar. Teriam que lutar todos os dias para ganhar o suficiente para se sustentarem. Eles: verdadeiros guerreiros, verdadeiros exemplos, verdadeiros ídolos...

E é fiiiiiiiiiiiim de jogo! Grande vitória brasileira...